quarta-feira, 13 de maio de 2009

Queda das exportações vira ‘tsunami’ para indústria automobilística nacional

Exportações brasileiras caíram 50,3% no 1º quadrimestre.
Indústria mundial deixará de vender 11 milhões de carros este ano.

Priscila Dal Poggetto Do G1,
São Paulo

Os resultados da indústria automobilística nacional confirmam a passagem de uma “marola” pela economia brasileira - como havia dito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em relação aos reflexos da crise financeira mundial. No primeiro quadrimestre, as vendas de veículos tiveram leve queda, de 0,7%. Entretanto, o enfraquecimento dos mercados tradicionalmente compradores de produtos do país já causa para as montadoras os efeitos de um “tsunami” no que se refere às exportações.

A grande preocupação do setor sobre o futuro das vendas externas foi o foco de analistas e executivos nesta segunda-feira (11), em São Paulo, durante o seminário Autodata de “perspectivas”. De acordo com análise da consultoria CSM Worldwide, com a crise, o mundo terá queda de 11 milhões de unidades nas vendas deste ano de automóveis e comerciais leves.

A tendência negativa força as exportações brasileiras para baixo. No acumulado de janeiro a abril, a vendas externas caíram 50,3%, em relação ao mesmo período do ano passado - de 247.701 unidades para 123.101. Para 2009, a previsão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) é de queda de 32% sobre 2008, de 735 mil para 500 mil unidades.

“Notamos quedas contundentes em qualquer negócio no exterior e teremos a dificuldade adicional de conquistar mercados que ‘derreteram’, de forma geral, com a crise”, observa o presidente da Anfavea, Jackson Schneider. Segundo ele, as principais quedas de demanda são observadas no México, com redução de 41,4% nos negócios entre os dois países, Argentina (queda de 54,8%), União Europeia (51,2%), Grupo Andino (51,3%), e Chile (73,7%).

Na opinião da vice-presidente da consultoria Booz & Company, Letícia Costa, os acordos comerciais limitados na América Latina, em especial com Argentina e México, é que agravam a situação das exportações de veículos do Brasil. Isso porque, quando um desses mercados “escorrega”, o Brasil derrapa junto. “A gripe suína, por exemplo, irá retrair ainda mais a economia mexicana, o que dificultará muito os negócios com o Brasil”, destaca a consultora.

Para o vice-presidente da CSM Worldwide, Paulo Cardamone, a luta da indústria será além de ampliar os clientes no exterior, aumentar o conteúdo dos carros, sem incrementar os preços. “Este conteúdo se refere a itens essenciais para a concorrência, como os de segurança”, afirma. Segundo ele, a retração de 40% nas vendas externas não será recuperada tão cedo. “Estamos muito regionalizados, isso significa que não fizemos a lição de casa em relação ao conteúdo dos veículos. Ou seja, estamos atrasados”, alerta.

Foto: David Zalubowski/AP
Brasil espera retomada do crescimento nas vendas de carros nos Estados Unidos

Esperança de retomada

Apesar do quadro crítico, o presidente da Anfavea acredita na retomada das vendas de veículos nos Estados Unidos no próximo semestre. Segundo Schneider, o incentivo do governo norte-americano a favor do consumo de veículos trará uma oportunidade de retomada. “Os estoques nos outros países também estão pequenos, o que pode representar uma retomada da demanda no próximo semestre”, destaca.

Outra expectativa é de que, com a recuperação, os Estados Unidos voltem a fornecer crédito para a América Latina no ritmo anterior à crise. “O mercado do EUA é tradicional fornecedor de crédito para esta região”, acrescenta. Entretanto, sobre o mercado europeu, analistas e executivos acreditam em retomada lenta, o que brecará os negócios com o Brasil.

“Os incentivos governamentais para a compra de veículos, como acontece na Alemanha, poderão aumentar as vendas em um primeiro momento, mas é possível que gerem bolhas no futuro”, avalia Paulo Cardamone.

Foto: Divulgação
Mercado de caminhões tem queda na demanda

Caminhões

Dependente da mineração, agricultura e da indústria em geral, o mercado de caminhões sofre com a diminuição da demanda no mercado interno, mas também amarga as perdas globais. A Mercedes-Benz chegou a vender 10 mil motores para os Estados Unidos no primeiro trimestre do ano passado. Neste ano, o volume não passou de 31 unidades.

“Temos de ter tranqüilidade para adequação. Toda a cadeia terá de sofrer, apesar de imaginarmos um segundo semestre de recuperação”, afirma a diretora de marketing e desenvolvimento de rede da Mercedes-Benz, Tânia Silvestri. Assim como Tânia, executivos da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Iveco e Ford Caminhões, também presentes no evento, concentram-se na esperança de resultados mais positivos na segunda metade do ano.

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