domingo, 19 de julho de 2009

Montadoras chinesas instalam fábricas no Brasil e país exporta 'know-how'

Chery, JAC, BYD e Changhe procuram benefícios fiscais no país.
Brasil atrai investidores devido ao potencial do mercado automotivo.


Foto: Divulgação
Tiggo será o primeiro modelo da Chery no Brasil

Investir na construção de uma fábrica em um país que possui 7,4 habitantes por veículo em circulação – que é o caso do Brasil – significa um negócio próspero. Como comparação, nos Estados Unidos há um carro para cada 1,2 habitante. Na vizinha Argentina, há um carro para 4,8 habitantes. É esse imenso potencial que atrai montadoras do mundo todo ao mercado automotivo brasileiro, inclusive as chinesas.

E não é de se espantar que quatro grandes montadoras daquele país já sondem os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e Amazonas em busca de incentivos fiscais para instalar fábricas. Por enquanto, a única com investimento confirmado é a Chery, que já começa a importar do Uruguai o modelo Tiggo para firmar a marca no mercado nacional.

São oportunidades para os dois países. O presidente da Câmara de Comércio Brasil e China (CCIBC), Charles Tang, afirma que há dois anos a câmara trabalha na intermediação das negociações. Segundo ele, os estados com mais vantagem para receber a fábrica da Chery são Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco. Por trás do negócio está a parceria com o JLJ Grupo, da área de alimentação escolar, prova de que o horizonte do mercado automotivo brasileiro tem despertado interesse de empresas em outros setores.


A outra montadora que ensaia desembarcar definitivamente na Zona Franca de Manaus é a Effa Motors. A empresa do uruguaio Eduardo Effa representa a chinesa Changhe e já vende modelos da marca no país. Segundo o empresário, além da ajuda fiscal, a região é vista como um ponto estratégico de logística dos caminhões-cegonha, que fazem a distribuição dos veículos. Apesar do plano, a instalação da unidade ainda não foi confirmada.

Apesar de Charles Tang não revelar quem são as outras empresas interessadas no país, já se fala no setor desde o início do ano de se tratar da BYD Auto e da JAC Motors (Anhui Jianghuai Automobile). Por trás dos projetos, está também o bilionário empresário brasileiro Eike Batista, que atua principalmente no setor de petróleo e mineração.

Foto: Jianan Yu/Reuters
Linha de produção da montadora chinesa Anhui Jianghuai Automobile


A BYD começou em 1995 com uma pequena unidade na província de Shenzhen, que possuía 30 funcionários para a fabricação de baterias. Em 2003, já era a segunda maior produtora de baterias recarregáveis do mundo. Assim, decidiu investir no desenvolvimento de veículos híbridos e comprou a montadora Tsinchuan Automobile Company. Seu modelo de maior destaque é o híbrido F3DM. Para 2011, a empresa afirma que reserva o lançamento do primeiro carro elétrico da marca, o E6.

A JAC foi fundada em setembro de 1999 e produz de automóveis compactos a caminhões. Entre os produtos que podem chamar a atenção no mercado nacional estão o monovolume A137, ao estilo do Honda Fit, e o utilitário esportivo Rein, na linha do Hyundai Santa Fé.

Dificuldades

Trazer uma marca para o Brasil não é tarefa tão fácil. Por isso, empresários brasileiros atuam nos bastidores em defesa das montadoras asiáticas. Com a visão oriental de negócios, o presidente da Câmara de Comércio Brasil e China critica a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) brasileira, que “fomenta a informalidade” devido aos encargos que incidem sobre os contratos. Além disso, Tang compara também a cobrança de impostos.

“Os encargos sociais brasileiros representam 58% do salário de um trabalhador, já os impostos equivalem a 40% do PIB. Na China eles representam apenas 17,5%. Além disso, os juros na China são baixos e o câmbio é favorável à exportação”, explica. “Por enfrentar isso, acho que os empresários brasileiros estão entre os melhores do mundo.”

Foto: Divulgação
Linha de montagem da GM de São Caetano do Sul

Brasil exporta experiência

Nesta balança comercial, o que o Brasil tem exportado é know how. Foi o que levou o brasileiro Gerson Pagnotta assumir o cargo de diretor de engenharia de manufatura na General Motors Shanghai. Seu trabalho é desenvolver em conjunto com a matriz de Detroit a área de manufatura na unidade chinesa. Além da dificuldade da língua – Pagnotta sempre é acompanhado na fábrica por um tradutor — e de se adaptar à comida, o executivo precisa conciliar sua visão de trabalho com a cultura local.

“As áreas de foco são diferentes, porque a base de lógica segue fator diferente. Então, precisamos ter muita flexibilidade para conseguir passar a mensagem que queremos”, explica Pagnotta. “Por ser estrangeiro, eles esperam que você seja uma pessoa que ajude. Sabem que temos mais experiência e eles querem que sejamos uma espécie de tutor. Eles prezam muito o trabalho em grupo, no ocidente a postura é mais individualista”, descreve o diretor.

Com nove anos de experiência na China, o gerente de engenharia de manufatura da General Motors Shanghai, Osni Caniato, também foi aplicar no país o que desenvolveu no Brasil. Segundo ele, a visão do trabalhador na China é muito diferente. “Ele precisa de um guia, um líder, para dizer o que fazer. A partir do momento que ele sabe o que fazer, ele procura executar o serviço da melhor forma possível”, diz o gerente.

Caniato – que se impressiona com a segurança e a qualidade de vida de Xangai – ainda estranha as diferenças trabalhistas, assunto polêmico pela visão ocidental. Segundo ele, a lei trabalhista chinesa permite a redução salarial em caso de mudança de função, por exemplo. O número de folgas também é bem diferente em relação ao mundo ocidental. “Aqui o empregado começa com cinco dias de férias por ano. Se ele tem de ir ao médico neste período, ele desconta desses cinco dias. O máximo que a pessoa consegue de férias é 15 dias por ano”, explica Caniato.

A exemplo desses dois executivos, empresas como Volkswagen, Ford, Toyota, entre outras, também contam com a experiência de brasileiros em fábricas chinesas. Afinal, o Brasil já é considerado um pólo de engenharia automobilística. Tanto é que o carro chinês movido a etanol não está tão longe de se tornar real. De acordo com o diretor-geral da Chana Motors do Brasil, Mohsin Ibraimo, a companhia já faz pesquisas para produzir veículos flex. Tudo para conquistar a simpatia do consumidor brasileiro.

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