quarta-feira, 29 de abril de 2009

Como a crise nos EUA afeta o Brasil

A divisão entre GM boa e ruim e o casamento Fiat-Chrysler

por FERNANDO CALMON

Fernando Calmon - foto DivulgaçãoQue a crise econômico-financeira mundial atingiu o Brasil de forma dura não existe mais dúvida. De certo modo sofremos menos intensamente do que outros países, mas ainda preocupa. A indústria automobilística reagiu bem até o momento pela combinação de renúncia fiscal provisória por parte do governo, capacidade de reação e adaptação do setor, recuperação do crédito (mais caro) e, acima de tudo, a vontade do brasileiro de comprar ou de trocar de carro. A mesma sorte, por exemplo, não teve o ramo de motocicletas.

Mas o que ocorre lá fora na área automotiva também vai repercutir aqui. É o caso da GM que terá seu destino selado dentro de seis semanas. Ocorre que o combalido gigante americano não cabe dentro do abismo e por isso mesmo não deve falir. Chega a causar espanto notícias que confundem falência com recuperação judicial, jeito elegante para a velha e conhecida concordata, termo também em desuso por aqui. São capítulos diferentes da legislação de lá.

A solução clássica, dessa vez patrocinada pelo governo americano, é a divisão em duas GMs: a nova (e boa) e a antiga (e ruim). A cisão pode ser feita ou não nos tribunais. A GM boa ficaria apenas com as marcas Chevrolet e Cadillac. Desapareceriam as demais ou talvez vendidas ainda não se sabe para quem, nem quando. O governo já emprestou US$ 13 bilhões e deve colocar mais US$ 20 bilhões. É muito dinheiro? Depende. Em 1998 a alemã Daimler-Benz pagou US$ 36 bilhões pela Chrysler e a revendeu em 2007 por US$ 650 milhões (mais as dívidas) para a empresa de capitalização Cerberus, atual dona.

Entre as dúvidas, paira a situação da subsidiária alemã da GM, a Opel. É difícil sua sobrevivência por possuir fábricas demais na Europa e produtos de menos. E isso tem a ver com o Brasil pois todos os automóveis Chevrolet utilizam arquiteturas Opel, do Celta ao Vectra. No entanto, a engenharia em São Caetano do Sul (SP) está muito desenvolvida e seria fácil criar a partir das plataformas da sul-coreana Daewoo de propriedade total da GM. A marca Chevrolet perdeu dois pontos percentuais de participação no mercado brasileiro em seis meses. Os atuais 19% são até motivo de surpresa em função do bombardeio de notícias negativas vindas da matriz.

Outro caso é a discutível união Chrysler-Fiat. Se realmente se efetivar, em duas semanas, nada garante que vai dar certo. A complementaridade de produtos importa, mas não é tudo. A fabricante dos Mercedes-Benz também tinha modelos que não concorriam com Dodge, Chrysler ou Jeep e deu no que deu, mesmo com orçamentos generosos.

Hoje nem a empresa americana nem a italiana está capitalizada. Mesmo a exportação de carros europeus para os EUA exige tempo e dinheiro, além da recuperação da imagem da marca de Torino aos olhos dos compradores norte-americanos. Adaptar linhas de produção nos EUA com a rapidez exigida é outra encrenca. Pelos menos os dois chefes, Nardelli e Marchione, têm sobrenome italiano...

Na teoria, esse segundo casamento da Chrysler poderia significar repercussões de peso no Brasil. Seria especialmente positivo para a Fiat, se não houver incompatibilidade de gênios e os dotes financeiros de cada um forem suficientes.

Roda Viva

MITSUBISHI oferecerá até meados do ano o primeiro motor V6 flexível etanol-gasolina do mercado nacional, conforme antecipado pela coluna. O motor é japonês, mas o desenvolvimento feito no Brasil com a ajuda da Magneti Marelli. De início equipará os utilitários esportivos Pajero. Um ou dois meses depois também estará disponível na picape L200 Triton.

AINDA se mantém como segredo, mas se espera para breve o anúncio de que pesquisadores brasileiros estão perto de conseguir obter combustível diesel a partir da cana-de-açúcar pela primeira vez no mundo. Até agora apenas etanol sai das torres de destilação. Não existem pormenores sobre preço, métodos de produção e tempo restante para o desenvolvimento.

MESMO confiante de que o Mini terá público certo no Brasil, a BMW, dona da marca inglesa, planeja uma entrada prudente no mercado. Espera vender, até o final do ano, 600 unidades das versões Cooper, Cooper S (hatches) e Clubman (station) com preços entre R$ 92 mil e R$ 129 mil. Terá uma concessionária em São Paulo e outra em Curitiba. O carro já teve motor brasileiro (Tritec, hoje de propriedade Fiat).

LEITOR Leon Cavour, além de concordar com a coluna sobre os erros da inspeção ambiental em São Paulo, achou muito cara a taxa de R$ 52,73. Ele pesquisou o site da Controlauto em Portugal e a empresa cobra, pela inspeção completa, inclusive de segurança 27 euros (cerca de R$ 80). Além disso, a inspeção começa no quarto ano após o primeiro licenciamento.

APESAR de ainda precisar tramitar até a aprovação final, é boa a proposta do deputado federal Celso Russomano (PP-SP) obrigando aulas de direção à noite para alunos de auto-escolas. Também há proposta para aulas em estradas. Se tudo for aprovado, a segurança do trânsito só tem a ganhar. E muito.

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