Para a indústria brasileira de automóveis, os efeitos da crise global têm duas perspectivas diametralmente opostas. De um lado, o mercado interno continua a enfrentar, com certo desembaraço, o desarranjo financeiro mundial e mantém o ritmo de vendas do ano passado -- alimentado, principalmente, pelas facilidades tributárias oferecidas pelo governo. Do outro, as exportações foram pegas em cheio pelo turbilhão econômico. Como os mercados de vários países ficaram muito mais retraídos que o brasileiro, as exportações dos automóveis fabricados aqui caíram drasticamente. Segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), no primeiro quadrimestre, as exportações foram 51,2% menores que no ano passado, o que se refletiu em uma queda de 14,7% na produção.
"A redução na produção de veículos no Brasil em 2009 vai ser puxada fundamentalmente pela perda de exportação", reconhece Jackson Schneider, presidente da entidade.
Na ponta do lápis, o quadro é mesmo desanimador para as exportações. Em 2004, por exemplo, quase 30% de toda a produção brasileira de veículos era destinada ao mercado externo. Agora, este índice caiu para 15%. No primeiro quadrimestre de 2008 foram 189.407 veículos. Já de janeiro a abril deste ano, este número se reduziu para 92.372 unidades exportadas -- o que significa quase US$ 2,3 bilhões a menos com exportações. O tombo nas vendas de carros "made in Brazil" se deve ao fato de o país não ter uma clientela de amplo espectro.
"As exportações brasileiras estão concentradas em uma fatia pequena de países. Elas não estão pulverizadas", ressalta Alexandre Andrade, economista da consultoria Tendências. O caso é que os produtos brasileiros não são sofisticados e, por isso, as vendas acabam se dirigindo a países com mercados mais pobres e que sofreram muito com a crise. Os mercados da Argentina e do México, os dois maiores compradores, recuaram mais de 60% cada um.
A questão da cotação entre real e dólar dessa vez não é a principal razão para um panorama ruim das exportações. Mas contribui para piorar. A desvalorização do real frente à moeda norte-americana a partir do chamado "setembro negro" -- quando teve início a crise financeira global -- poderia até se traduzir em vantagens para as exportações. Afinal, o dólar era cotado a R$ 1,60 e hoje oscila entre R$ 2 e R$ 2,30. Só que as moedas de países emergentes, compradores ou competidores, desvalorizaram mais que a brasileira.
"A moeda sul-coreana, por exemplo, desvalorizou bastante e os carros de lá ficaram mais competitivos para alguns mercados. E se o real não tivesse se desvalorizado, a situação estaria pior", acredita Carlos Eugênio Dutra, diretor de produto e exportações da Fiat.
O recuo do mercado externo acaba por afetar diretamente a produção. De acordo com os executivos do setor, esse panorama implica em mudanças desde os compromissos com os fornecedores até a capacidade instalada de produção. O fato de o mercado interno estar em um bom ritmo, porém, minimiza os efeitos das vertiginosas quedas das exportações.
"Acaba desequilibrando o planejamento, mas com o mercado interno mantido, tem-se a oportunidade de redirecionar a produção", pondera Marcos de Oliveira, presidente da Ford. "A exportação para a GM é uma atividade complementar, que não substitui o mercado interno. As vendas internas é que garantem competitividade e ganhos de escala para exportar", salienta José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da General Motors.
A situação é complexa e dificulta as projeções. "É muito difícil prever o que vai ocorrer no segundo semestre. Depende de uma série de fatores macros, tanto internos como externos", diz Oliveira, da Ford. Mesmo assim, a Anfavea acredita que 2009 feche com US$ 9,5 bilhões em vendas e 500 mil unidades exportadas. Caso se confirme, os volumes serão respectivamente 39% e 32% menores que os números alcançados de 2008. "O mercado de exportação vai demorar a se recuperar. Mas temos expectativa de melhora, principalmente, no segundo semestre", aposta Schneider, presidente da associação.
NOVAS TERRAS
Para quem vive uma crise global, o mercado interno relativamente estável serve como consolo para a queda acentuada das exportações. Mesmo assim, há quem enxergue alternativas que podem minimizar os efeitos da crise. A principal delas seria buscar novos negócios. Ou ao estilo dos navegadores do Século XV, desbravar oceanos. "A longo prazo, à medida que os efeitos da crise passem e as coisas voltem ao normal, uma saída pode ser buscar um maior número de parceiros, principalmente que tenham mercado consumidor parecido com o nosso", sugere Alexandre Andrade, economista da consultoria Tendências.
A Fiat tenta seguir essa lógica. A marca italiana, que já teve 50 países compradores, atualmente exporta para 36 países -- 27 na América Latina e nove na Europa Ocidental. "Por questões estratégicas, nos especializamos em América Latina, mas é possível ganhar mais oito ou 10 países", torce Dutra, da Fiat.
A GM, por sua vez, não parece muito otimista. A montadora já chegou a exportar para 40 países e agora exporta para 10. "No atual cenário mundial, em que se registram quedas em vários mercados expressivos, não há condições favoráveis para a prospecção de novos clientes para a exportação", acredita Pinheiro Neto, vice-presidente da marca. (por Fernando Miragaya)
Na ponta do lápis, o quadro é mesmo desanimador para as exportações. Em 2004, por exemplo, quase 30% de toda a produção brasileira de veículos era destinada ao mercado externo. Agora, este índice caiu para 15%. No primeiro quadrimestre de 2008 foram 189.407 veículos. Já de janeiro a abril deste ano, este número se reduziu para 92.372 unidades exportadas -- o que significa quase US$ 2,3 bilhões a menos com exportações. O tombo nas vendas de carros "made in Brazil" se deve ao fato de o país não ter uma clientela de amplo espectro.
"As exportações brasileiras estão concentradas em uma fatia pequena de países. Elas não estão pulverizadas", ressalta Alexandre Andrade, economista da consultoria Tendências. O caso é que os produtos brasileiros não são sofisticados e, por isso, as vendas acabam se dirigindo a países com mercados mais pobres e que sofreram muito com a crise. Os mercados da Argentina e do México, os dois maiores compradores, recuaram mais de 60% cada um.
A questão da cotação entre real e dólar dessa vez não é a principal razão para um panorama ruim das exportações. Mas contribui para piorar. A desvalorização do real frente à moeda norte-americana a partir do chamado "setembro negro" -- quando teve início a crise financeira global -- poderia até se traduzir em vantagens para as exportações. Afinal, o dólar era cotado a R$ 1,60 e hoje oscila entre R$ 2 e R$ 2,30. Só que as moedas de países emergentes, compradores ou competidores, desvalorizaram mais que a brasileira.
"A moeda sul-coreana, por exemplo, desvalorizou bastante e os carros de lá ficaram mais competitivos para alguns mercados. E se o real não tivesse se desvalorizado, a situação estaria pior", acredita Carlos Eugênio Dutra, diretor de produto e exportações da Fiat.
O recuo do mercado externo acaba por afetar diretamente a produção. De acordo com os executivos do setor, esse panorama implica em mudanças desde os compromissos com os fornecedores até a capacidade instalada de produção. O fato de o mercado interno estar em um bom ritmo, porém, minimiza os efeitos das vertiginosas quedas das exportações.
"Acaba desequilibrando o planejamento, mas com o mercado interno mantido, tem-se a oportunidade de redirecionar a produção", pondera Marcos de Oliveira, presidente da Ford. "A exportação para a GM é uma atividade complementar, que não substitui o mercado interno. As vendas internas é que garantem competitividade e ganhos de escala para exportar", salienta José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da General Motors.
A situação é complexa e dificulta as projeções. "É muito difícil prever o que vai ocorrer no segundo semestre. Depende de uma série de fatores macros, tanto internos como externos", diz Oliveira, da Ford. Mesmo assim, a Anfavea acredita que 2009 feche com US$ 9,5 bilhões em vendas e 500 mil unidades exportadas. Caso se confirme, os volumes serão respectivamente 39% e 32% menores que os números alcançados de 2008. "O mercado de exportação vai demorar a se recuperar. Mas temos expectativa de melhora, principalmente, no segundo semestre", aposta Schneider, presidente da associação.
NOVAS TERRAS
Para quem vive uma crise global, o mercado interno relativamente estável serve como consolo para a queda acentuada das exportações. Mesmo assim, há quem enxergue alternativas que podem minimizar os efeitos da crise. A principal delas seria buscar novos negócios. Ou ao estilo dos navegadores do Século XV, desbravar oceanos. "A longo prazo, à medida que os efeitos da crise passem e as coisas voltem ao normal, uma saída pode ser buscar um maior número de parceiros, principalmente que tenham mercado consumidor parecido com o nosso", sugere Alexandre Andrade, economista da consultoria Tendências.
A Fiat tenta seguir essa lógica. A marca italiana, que já teve 50 países compradores, atualmente exporta para 36 países -- 27 na América Latina e nove na Europa Ocidental. "Por questões estratégicas, nos especializamos em América Latina, mas é possível ganhar mais oito ou 10 países", torce Dutra, da Fiat.
A GM, por sua vez, não parece muito otimista. A montadora já chegou a exportar para 40 países e agora exporta para 10. "No atual cenário mundial, em que se registram quedas em vários mercados expressivos, não há condições favoráveis para a prospecção de novos clientes para a exportação", acredita Pinheiro Neto, vice-presidente da marca. (por Fernando Miragaya)
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