Especialistas comentam a expansão da montadora italiana nos EUA.
Desafio tecnológico de Fiat e Chrysler será reduzir emissões.
Chegar ao controle da Chrysler foi um grande passo para o Grupo Fiat, mas será preciso muito trabalho no mercado norte-americano para garantir sua expansão, já que por trás da recuperação da montadora norte-americana, a Fiat precisará investir na promoção de suas próprias marcas como Alfa Romeo (que deixou os EUA em 1995) e Lancia. Porém, a grande cartada da montadora italiana contra a General Motors e as concorrentes asiáticas, como Toyota e Nissan, está no compacto Fiat Cinquecento (500). Isso porque o mercado norte-americano está carente de carros mais econômicos, que não deixam a desejar em estilo e conforto.
No entanto, os produtos terão de se encaixar à nova legislação de emissões dos Estados Unidos. Nesse ponto, Chrysler e Fiat precisam caminhar lado a lado na troca tecnológica. “Ou a indústria ocidental faz essa troca de tecnologia ou entrega para o Oriente e perde mercado para Ásia. Ou seja, é bastante oportuna para a Fiat a chance dessa compra”, afirma a professora de planejamento e análise econômica da FGV, Celina Ramalho. “Mas a lição de casa não acabou, está só começando”, ressalta Celina.
Novos produtos
Para o consultor de mercado e sócio da Creating Value Consultoria, Corrado Capellano, a desvantagem da estratégia para a Fiat é o risco de que as dificuldades sejam bem maiores do que avaliam os banqueiros, como o CEO da Fiat, Sergio Marchionne. Capellano, que já trabalhou na Chrysler, considera a operação “muito arriscada”.
Segundo ele, além da tecnologia, a Fiat terá de conseguir usar a rede de concessionárias Chrysler para vender carros da marca Fiat — mesmo com pouco volume de venda, já seria uma grande vantagem para a marca italiana.
Volume de produção
Expandir para o mercado norte-americano significa, além de estar preparado com produtos atrativos, maior volume de produção para atender o mercado consumidor assim que o mundo sair da crise. “O mercado americano é ainda um dos mais importantes mercados mundiais em termos de tamanho. Este momento de mudanças pode oferecer oportunidades de entrada ou fortalecimento de posição neste mercado, permitindo que as empresas capitalizem quando o mercado se recuperar”, afirma a vice-presidente da empresa de consultoria Booz & Company, Letícia Costa.
Assim, embora a “prioridade” do grupo italiano seja a Chrysler, a Fiat busca novos parceiros que lhe garanta atingir, juntamente com a Chrysler, o volume anual de 6 milhões de unidades produzidas, ou seja, o posto de sexto fabricante mundial. Por enquanto, as duas montadoras produzem juntas 4 milhões de veículos anualmente.
Sem a Opel
Se a Fiat tivesse fechado negócio para a aquisição de parte da Opel, a estratégia seria a mesma. A italiana tem forte atuação na Itália, Leste Europeu e Mercosul, mas ainda não conseguiu atingir o mercado europeu de maneira agressiva. A Opel representaria um passo à frente nessa expansão. Entretanto, perdeu as negociações para a fabricante de autopeças Magna.
“Acredito que a proposta da Fiat foi descartada porque era muito mais agressiva em racionalização de capacidade, e consequente redução nos níveis de emprego. Esta maior agressividade se explica pelo fato de que a Fiat já é uma montadora e, portanto, tem maior potencial de racionalização de capacidade do que a Magna”, observa Letícia Costa. A consultora não acredita que o “fracasso” nas negociações tenha comprometido a imagem da Fiat diante dos consumidores europeus.
Restam ainda mercados para a Fiat avançar? Sem dúvida. Para Corrado Capellano, China, Rússia e Índia ainda têm muitas oportunidades para serem exploradas, mais que o próprio mercado brasileiro, onde muitos diziam que a Fiat teria interesse em comprar a General Motors do Brasil. Boatos descartados pelo próprio presidente da Fiat do Brasil e Mercosul, Cledorvino Belini.
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