quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mesmo sabendo dos riscos, paulistanos mandam torpedos enquanto dirigem

Especialistas ressaltam perigo do hábito cada vez mais comum no trânsito.
Pesquisa indica que SMS é mais perigoso do que dirigir bêbado.


Foto: Paulo Toledo Piza/G1
Advogado Fabrício Angerami manda torpedo enquanto dirige.

Um meio fácil e prático de enviar mensagens de texto, os torpedos de celular podem se tornar perigosos quando transmitidos por motoristas no trânsito. Paulistanos ouvidos pelo G1 dizem ter conhecimento do perigo, mas mesmo assim continuam mandando mensagens de texto enquanto dirigem.

É o caso do advogado Fabrício Angerami, de 23 anos. “Envio mais quando estou parado no sinal”, afirmou o jovem. Esse costume já lhe rendeu “buzinaços”. “Quando o sinal abre, e eu não reparo por estar mandando mensagens, buzinam para que eu ande logo.”

Torpedos com o carro em movimento, ele garante, só são enviados quando o assunto é urgente. “Por exemplo: tenho de encontrar com alguém, mas esqueci de pedir para ela descer. Nesse caso eu mando um aviso do tipo “desça” com o carro andando.”

Quando o tráfego está parado, algo comum nos horários de pico em São Paulo, a estudante Letícia Born, 20 anos, aproveita o congestionamento para escrever no celular. “Mando mais quando lembro de algo que deveria fazer, como falar com o meu pai, por exemplo.”

O número de torpedos que Letícia envia, porém, diminuiu nos últimos meses, não por causa do perigo. “É que a conta do celular andava muito alta”, comentou.

A produtora de moda Natália Vinhas Fernandes, 23 anos, se diz viciada em enviar torpedos. “Agora que o meu celular tem teclado, então, é mais fácil de mandar [mensagens]”, disse.

Desde o dia em que tirou a carteira de habilitação, aos 18 anos, ela usa o celular no trânsito. Ela garante, porém, que redobra a atenção. “Olho se tem um carro por perto, olho em volta.” E completa: “Aproveito também para ver se não tem marronzinho, para não levar multa”.

Perigo

Especialistas ouvidos pelo G1 ressaltam o aumento do risco de colisões devido à falta de atenção causada pelas mensagens de texto. De acordo com a professora Silvana Maria Zioni, ex-superintendente de planejamento e desenvolvimento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), direção e celular não combinam. “A manipulação de celulares, que hoje mais parecem computadores de bordo, é incompatível com a direção”, afirmou.

Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Natália Fernandes observa se não há guardas para mandar torpedos.

O uso do torpedo tira a atenção no trânsito do cérebro do condutor. “Você desvia o foco visual para o aparelho e o carro fica num voo cego”, disse o consultor de engenharia de tráfego Horácio Augusto Figueira, da consultoria Hora H.

Conforme José Montal, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), “90% das informações para se dirigir são captadas pelo sentido da visão”. Dessa forma, “qualquer evento que porventura tire a atenção do condutor pode causar um acidente”, afirmou.

Esse tipo de desatenção pode causar mortes. No exterior, por exemplo, uma motorista atenta na mensagem que enviava – e distraída com o trânsito- provocou um acidente fatal. A britânica Philippa Curtis, de 21 anos, dirigia a mais de 100 km/h quando acertou a traseira do carro de Victoria McBryde, de 24, que morreu. Philippa foi condenada a 21 meses de prisão.

Bebida

Pesquisa divulgada no ano passado por um instituto londrino revela que esse tipo de comunicação atrapalha mais os motoristas do que o uso de bebidas alcoólicas.

Conforme o levantamento da RAC Foundation, que trabalha com segurança dos motoristas, as reações dos motoristas foram 34,7% mais lentas quando dirigiam enquanto escreviam ou liam torpedos. Por outro lado, motoristas que bebiam tinham reações 12,4% mais lentas, conforme a fundação.


Para a professora Silvana, os motoristas deveriam ter mais consciência ao dirigirem. “Fazer duas coisas ao mesmo tempo não dá certo. O ato de dirigir não é como [o ato de] respirar”, comparou.

Como solução para a comunicação móvel no trânsito, os especialistas aconselham os motoristas a deixarem seus aparelhos em modo silencioso. “Deixe a curiosidade de lado, deixe no silencioso, que registra a chamada”, afirmou o consultor Figueira. “Eu não atendo enquanto dirijo. É uma norma de segurança pessoal minha.”


Multas

Não é só o risco de acidentes que o motorista deve levar em conta ao mandar um torpedo enquanto dirige. Conforme a CET, dirigir com apenas uma das mãos ou falando ao celular representa infração média, que ocasiona multa de R$ 85 e mais quatro pontos na carteira de habilitação.

No ano passado 373.455 motoristas foram multados após serem flagrados dirigindo e falando ao celular apenas na cidade de São Paulo. A companhia, porém, não tem dados relacionados a condutores pegos enviando torpedos.

0 comentários:

Postar um comentário