sábado, 8 de agosto de 2009

Montadoras temem fim dos programas de incentivo à troca de carros na Europa

Analistas apostam no caos no setor se estímulo dos governos terminar.
Empresas apresentaram crescimento nas vendas nos últimos meses.


Foto: Joerg Sarbach/AP
Carro é jogado em ferro-velho em Bremen, na Alemanha

Os programas de incentivo para a troca de carros velhos por modelos mais novos na Europa têm alcançado grande popularidade nos últimos meses. No entanto, analistas acreditam que este estímulo federal pode resultar em um grande problema para a indústria automobilística europeia caso os governos parem de dar suporte financeiro.


A França inaugurou o sistema de bônus para a troca de carros em dezembro do ano passado. Na época, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou um investimento de 26 bilhões de euros (US$ 37,36 bilhões) como estímulo para ajudar o país a ameaça de uma recessão.


Alemanha, Itália, Reino Unido, Romênia, Áustria, Holanda, Espanha e Sérvia aderiram à moda e lançaram suas próprias versões para ajudar as montadoras nacionais, como o grupo alemão Daimler AG ou a romena Dacia.


Os programas geram críticas nos países. Analistas não consideram justo investir bilhões de euros na indústria automobilística em detrimento de outros setores. Por outro lado, as medidas dos governos ajudam a reduzir o número de demissões e o encerramento de contratos temporários nas montadoras.


O que muitos perguntam é: o que vai acontecer quando a ajuda federal acabar? "É uma questão de tentar prevenir o inevitável", afirma Paul Newton, analista da IHS Global Insight. "A realidade é que sem essa ajuda, as chances de ver um monte de empresas quebrando seria grande." Segundo ele, as montadoras e as concessionárias de veículos estão usando o dinheiro para fazer caixa e se preparar para um “2010 muito duro".

Países da Europa que adotaram o programa de incentivo à troca de carros

País Bônus
Alemanha 2.500 euros para a troca de carros com mais de nove anos de uso por um novo
França 1.000 euros para a troca de carros com mais de dez anos de uso por um novo
Itália 1.000 euros para carros e 2.500 para comerciais leves com mais de dez anos de uso na troca por um novo
Espanha 2.000 euros para a troca de carros com mais de dez anos de uso por um que custe até 30 mil euros
Portugal 1.250 euros para carros de 8 a 12 anos ou 1.500 euros para carros com mais de 12 anos de uso
Holanda de 750 euros até 1.750 euros de bônus para carros com 9, 13 ou 19 anos de uso
Áustria 1.500 euros para carros com no mínimo 12 anos de uso
Romênia 900 euros para carros com mais de 10 anos; o programa é limitado para 60 mil carros
Eslováquia 1.100 euros para a troca por carros que custem até 18.800 euros
Sérvia 1.000 euros para carros com mais de nove anos na troca por um Fiat Punto
Grã-Bretanha 2.000 libras para a troca de carros com mais de dez anos de uso por um novo

Foto: Matthias Schrader/AP
Carros novos prontos para ir para as concessionárias da Alemanha

As autoridades dos Estados Unidos consultaram o sistema da Alemanha antes de criar o seu próprio programa. A diferença é que no programa norte-americano os carros são completamente destruídos, enquanto que na Alemanha, por exemplo, foi constatado que muitos dos automóveis velhos estavam sendo enviados para a África e o Leste Europeu em uma espécie de “contrabando”. Pelo programa alemão, os motores dos carros não precisam necessariamente ser destruídos.

Os programas têm atraído fortes críticas. O presidente da República Checa, Vaclav Klaus, vetou partes do pacote de estímulo alegando que atendia a interesses da indústria automobilística em detrimento dos outros setores e empresas.

Dependência

Na Alemanha, os críticos comparam o programa a uma dependência química. "A indústria automobilística espera do bônus como um viciado aguarda para a próxima picada", disse o deputado Steffen Kampeter.


Sylvie Cariou, diretora de uma concessionária Citroën na região de Paris, disse que o programa de incentivo foi notável na França. “Aumentou o número de visitantes nas lojas”, afirmou. “Muita gente que achava que não poderia ter um carro novo conseguiu motivos para comprar.”


Os programas ajudaram a reduzir o impacto da queda nas vendas de automóveis pela Europa. No segundo trimestre, a queda registrada foi de 5,6% sobre o mesmo período de 2008, enquanto que no primeiro trimestre o número registrado foi de 17,4%.


A Volkswagen AG teve aumento de 9,5% nas vendas na Europa. A Fiat cresceu 11,7% com destaque para as vendas de carros compactos. Peugeot-Citroën registrou aumento de 4,4%, Renault 3,4% e Ford 2,2%.

Histórico

A França lançou o seu programa em dezembro com um bônus de 1 mil euros (US$ 1.435) para o consumidor trocar carros antigos para os novos modelos de baixa emissão de poluentes.

Foto: Sang Tan/AP
Loja na Inglaterra oferece 2 mil libras pelo carro velho na troca por um novo

A Alemanha seguiu o exemplo com o programa lançado em fevereiro, no qual donos de carros com pelo menos nove anos tinham desconto de 2.500 euros (US$ 3.590) ao comprar um carro novo. A proposta inicial era disponibilizar 1,5 bilhão de euros para o programa, mas a adesão em massa da população levou o governo de Angela Merkel a aumentar a verba para 5 bilhões de euros. Até agora, cerca de 4,3 bilhões de euros já foram usados no programa.

Depois foi a vez de Itália, Espanha e Grã-Bretanha anunciarem suas versões para o programa. Resta saber o que vai acontecer quando a verba dos governos acabar. "Se os incentivos forem retirados haverá um impacto substancial na demanda", disse o presidente da Fiat Sergio Marchionne.

Quanto tempo os programas podem durar, no entanto, não é certo. O governo da Alemanha – sede das montadoras Volkswagen, BMW e Daimler - deixou claro que quando o dinheiro se esgotar o programa não será continuado. “Quando acabar (o dinheiro), não terá mais”, afirmou o ministro Karl-Theodor zu Guttenberg.

As montadoras europeias tentam articular com o governo um fim gradual do apoio temendo que, até a economia do continente se recuperar, uma queda brusca na demanda poderá representar um caos no setor. Patrick Pelata, chefe de operações da Renault, resumiu o sentimento dos executivos: “Estes programas não podem durar para sempre, mas a crise ainda está por aqui".

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