segunda-feira, 1 de junho de 2009

Veja a linha do tempo da crise da GM

Concordata da GM representa o fim de uma era, diz especialista.
Empresa teve de abrir mão de benefícios aos trabalhadores.

O pedido de concordata da General Motors, anunciado nesta segunda-feira (1º), representa o fim de um sonho para os trabalhadores americanos, o de ter um emprego seguro e garantido para toda a vida e, com isso, ter acesso ao conforto da classe média. "É o fim de uma era ", disse Harley Shaiken, um especialista em questões sociais, na Universidade da Califórnia em Berkeley (Oeste). Agora vamos entrar em terreno desconhecido."


"GM foi uma boa vida", observou Gary Chaison, professor de Relações Industriais da Universidade de Clark. "Havia uma espécie de contrato social: se trabalha duro para ter um emprego com segurança e um bom salário", explicou. Um trabalho de ouro para trabalhadores, que também tiveram todas as oportunidades para incluir os seus filhos. Emprego na GM "é transmitido por herança", recordou Chaison.

Detroit, o berço do automóvel americano, ajudou a difundir a prosperidade por meio de uma multiplicidade de fábricas, subempreiteiros e concessionárias. O sindicato dos trabalhadores (UAW) negociava acordos salariais altos o suficiente para permitir aos funcionários se tornarem proprietários, dono de uma casa ou um barco e ter seu próprio carro comprado por um preço reduzido. Além disso, o seguro saúde era pago pelo empregador e o fundo de aposentadoria estava garantido.

Mas o sonho começou a desmoronar a partir da década de 1980, quando a GM começou a transferir parte de sua produção para fábricas na Ásia e no México. Em pouco tempo, cidades próximas a Detroit, como Flint, começaram a entrar em decadência, com casas abandonadas e lojas vazias.


O número de trabalhadores sindicalizados nos Estados Unidos caiu de 440 mil em 1981 para 62 mil em 2008. O novo plano de reestruturação vai reduzir ainda mais o número de empregos para 38 mil em 2011.

Uma concordata anunciada

A General Motors foi fundada em 1908 e, cem anos depois, em 2008, registrava 8,35 milhões de veículos vendidos em 140 países, com 252 mil empregados espalhados pelo mundo. A montadora tem como principais mercados os Estados Unidos, China, Brasil, Reino Unido, Canadá, Rússia e Alemanha.


A crise na empresa começou a aparecer em março de 2005, quando a queda nas vendas de veículos fez a GM projetar redução de 80% nos negócios, pior desempenho desde 1992. Em 2006, a
revista ‘Fortune’ publicou uma reportagem sobre a possibilidade de quebra da GM. A reportagem afirmava que as agências Moody’s e Standard & Poor's duvidavam da possibilidade de reação da GM no mercado norte-americano.

Em julho de 2008, a GM anunciou um plano de redução de custos de US$ 10 bilhões, a suspensão do seu dividendo e venda de US$ 4 bilhões em ativos, tais como a sua marca Hummer, em uma tentativa para fortalecer dinheiro. Em novembro, a GM decidiu devolver dois de seus jatos executivos alugados após intensas críticas por legisladores depois de o presidente da companhia, Rick Wagoner voar para Washington em um avião privado para pedir fundos públicos.


No dia 19 de dezembro de 2008, o governo do então presidente George W. Bush destinou US$ 13,4 bilhões para a GM para salvar a montadora da falência e evitar um colapso. A Chrysler também recebeu ajuda. O dinheiro veio do fundo de US$ 700 bilhões de ajudas reservadas para o resgate do setor financeiro.


O dinheiro de Bush não foi suficiente. Em fevereiro deste ano, a GM pediu mais US$ 16,6 bilhões em empréstimos ao governo e diz que vai ficar sem dinheiro em março se não receber novos fundos federais. A empresa prometia intensificar a redução de custos globais cortando 47 mil empregos em 2009 e fechar cinco fábricas até 2012.


No dia 29 de março, o presidente Rick Wagoner foi demitido dois dias antes do fim do prazo para a GM apresentar plano de reestruturação. No dia seguinte, o presidente Barack Obama anunciou um plano de resgate para a indústria automobilística. A Casa Branca recusou as propostas de GM e Chrysler e deu um prazo até 1º de junho para a apresentação de um novo plano. O novo presidente da GM, Fritz Henderson, admitiu anunciar pedido de concordata já em abril.


Nos dois meses seguintes, a empresa fechou fábricas, concessionárias e conseguiu importantes acordos com os credores e com o sindicato dos trabalhadores do setor automotivo (UAW). Tudo isso, no entanto, não foi suficiente para evitar o pedido de proteção à lei de falências dos Estados Unidos, anunciado nesta segunda-feira (1º).

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